Matrafonas

No Carnaval de Torres Vedras, a máscara mais difundida coletivamente entre os homens da comunidade é de matrafona, que consiste na utilização de trajes e acessórios femininos. A tradição foi sendo transmitida através das gerações, difundida e veiculada por homens, traduzindo-se numa afirmação identitária da comunidade local.

A origem da matrafona reside no típico entrudo rural. A eleição de uma Rainha matrafona, em 1924, poderá ter desencadeado um efeito difusor pelos homens no período carnavalesco, em que a transgressão de regras e a sátira imperam.

As dificuldades económicas dos homens do campo podem estar na origem do fenómeno. Não havendo dinheiro para comprar máscaras, recorriam ao vestuário da esposa ou da mãe. Contudo, independentemente dos argumentos enunciados, os “homens vestirem-se de mulheres” era uma fantasia frequente e recorrente, enquadrando-se na inversão de papéis entre o género masculino e feminino, testemunho da inversão e transgressão da ordem social, típica do Entrudo.

A tradição oral também nos diz que o homem se vestia de matrafona para ridicularizar o facto de as mulheres não poderem brincar ao Carnaval.

Pelo que se pode apurar, identifica-se a matrafona “tradicional”, que consiste num homem que se veste de mulher mas que quer parecer um homem. Tratam-se das primeiras matrafonas referidas por Constância Bataglia, que “procuravam vestir um fato que lhes ficasse horrivelmente mal e feio”.

Por outro lado, também existem matrafonas que denotam um maior investimento, de forma a corresponder a um modelo de mulher mais arranjada e “sofisticada”. Recorrem, por isso, ao uso de acessórios e maquilhagem, podendo utilizar seios postiços, usam mini-saias, meias de rede, entre outros.

Por fim, a matrafona que consiste num homem que se veste de mulher e que, efetivamente, quer parecer mulher. É o caso das damas da Associação Ministros & Matrafonas, sempre representadas por homens, e da Rainha do Carnaval. Para o efeito, recorre-se ao uso de maquilhagem para disfarçar qualquer característica masculina e os homens envergam sempre vestidos compridos.

Estas tipologias expressam-se ainda em atitudes corporais e condutas comportamentais diferenciadas.

A figura da matrafona parece ser mais um exemplo de transgressão das regras sociais, através da inversão dos papéis de género masculino e feminino, que caracteriza o Entrudo.

 

Fonte: Registo do Carnaval de Torres Vedras no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial